sábado, novembro 26

Palestra

QUESABERS? QUEFAZERES?

Palestra realizada nesta semana para Organizações da Sociedade Civil


O (A)   EDUCADOR (A) SOCIAL:   
QUESABERES? QUEFAZERES?

Marilene Alencastro[1]
Ser Educador (a) social na contemporaneidade é um grande desafio, principalmente, quando os índices de desigualdade, exclusão e a violência crescem de forma assustadora e complexa, fruto da modernidade que valoriza a racionalização e a subjetivação. Em outras palavras, tempos difíceis no qual somos lançados em um mundo esfacelado e dualizado entre a beleza da visão das coisas e a feiura moral dos tempos. Acreditamos que além da curva existe, deve existir, tem de existir uma terra hospitaleira em que se fixar, mas depois de cada curva surgem novas curvas, com novas frustrações e novas esperanças ainda não destroçadas (Bauman, 1998).
Deste modo, reconhecendo a realidade da sua atuação e da sua tarefa nestes tempos de mal-estar, o (a)  Educador social precisa conscientizar-se que educação, seja ela formal ou informal é uma prática eminentemente política. Paulo Freire, nosso principal educador brasileiro orientou que “não posso ser se os outros não são; sobretudo não posso ser, se não contribuo para que os outros sejam (Freire in Streck:2008).
Educar é um ato político, o educador social estuda, organiza, propõe, realiza e avalia a suas práxis com a finalidade de potencializar a inclusão política e social do educando. Neste sentido Freire dizia que o educador precisa ter clareza em “torno de, a favor de quem e do quê, fazemos a educação” (Freire in Streck:2008), pois, tanto podemos perpetuar uma condição, como transformá-la. Neste sentido, o (a) Educador (a) Social precisa ser o (a) profissional da indignação, politizado (a) e que se envolva, verdadeiramente na luta de um projeto emancipatório para os (as) educandos (as) e na busca contínua de alternativas possíveis para transformar a realidade das populações com a qual exerce o seu ofício.
 Darcy Ribeiro dizia que só existem duas opções nesta vida, resignar-se ou indignar-se. A opção dele sempre foi clara. A indignação pode ser o combustível para afastar a descrença de que a realidade é imutável. É na prática educativa consciente, elaborada intencionalmente que estará presente a possibilidade de transformação. Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-libertadora

 É propiciar condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos como o educador ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de indignar-se,  porque é capaz de amar (Freire in Streck:2008).

Indignar-se com a desigualdade é possibilidade de amar e desejar transformar esta realidade por meio da intervenção, das escolhas de como realizar a prática, da escuta e principalmente do olhar atento, um olhar que repara as circunstâncias e busca possibilidades.
Ao reparar a realidade, articula a educação para a cidadania o que significa nela intervir, consciente dos diretos e deveres individuais e coletivos de seus educandos(as). A cidadania só é alcançada no exercício do debate reflexivo da sua condição no mundo. Se “o mundo é inacabado, se a realidade não é, a realidade está sendo” conscientizados podemos transformá-lo. (Freire in Streck:2008).
O (A) Educador (a) social, para além da sua área de formação técnica específica, necessita também, mobilizar habilidades e competências para realizar ações de inclusão. Este (a) profissional será responsável por realizar projetos de áreas diferenciadas que na maioria das vezes envolve arte, cultura, esporte, informática entre outros que potencializem a auto estima do (a) educando (a), bem como a inclusão para a cidadania plena. Deste modo, são imprescindíveis na sua prática cotidiana habilidades como:

·         Conhecer o seu grupo de trabalho (ver, reparar, enxergar);
·         Estar aberto (a) a escuta e ao diálogo;
·         Ser sensível às questões sociais;
·         Mediar conflitos que surjam nas relações;
·         Trabalhar em equipe;
·         Ser comprometido (a);
         Ter paciência e esperança, pois, é muito comum no contexto do trabalho a desesperança e o desejo do imediatismo.

     A este respeito Freire argumenta que

Tropeçando na dor humana, nós nos perguntávamos em torno de um cem número de problemas: Que fazer, enquanto educadores, trabalhando num contexto extremamente adverso? Há mesmo o que fazer? Como fazer o que fazer? (Freire in Streck:2008).

Ao mesmo tempo, para trabalhar ainda como Educador (a) social é preciso mobilizar saberes, competências didático-pedagógicas (Schon: 2000; Gómez e Sacristán: 1998) fundamentais para a tarefa que o (a) Educador (a) Social realiza no seu cotidiano, como:

a) Articulação pedagógica: conhecimentos cognitivos que o (a) Educador (a) traz da sua formação profissional, do seu ofício: teorias do conhecimento; diferentes concepções de ensino e aprendizagem; fundamentos em relação aos objetivos em sua atividade; recursos e avaliação; critérios e formas de selecionar, organizar e tratar didaticamente os conteúdos em função dos objetivos propostos; realização dos registros, uso de recursos didáticos; bibliografia entre outros;

b) Processos, conteúdos e princípios metodológicos: A forma de ensinar as técnicas da sua área de conhecimento; conhecimentos que permitem a compreensão das variáveis formais e não-formais de ensino e aprendizagem; práticas de convívio gerais da instituição que regulam as relações e condutas  do público atendido e dos (as) Educadores (as),  entre si e com as outras atividades; formas de organização do espaço e do tempo; modalidades organizadoras dos conteúdos; relação entre os objetivos e de realização pessoal do público alvo; trabalho de interação em grupo; formas de manejo - o difícil e o possível nas situações da aprendizagem para a cidadania - de conflito, de comportamento; propostas que favorecem a inclusão; função da intervenção pedagógica na aprendizagem; critérios de escolha e oferta de recursos materiais;  instrumentos de planejamento, de avaliação, de registro;

c) Interação da equipe: saber agregar, cuidar e mobilizar; interação centrada no conhecimento, desenvolvimento cognitivo e características pessoais; relações educadoras (a) educando/ educador (a) / educador (a): compreensão da natureza das relações; autonomia intelectual para refletir sobre o que faz e sobre as consequências; mobilizar redes de atendimento;

d) Conteúdos de ensino: domínio e conhecimento do objeto de ensino da sua atividade; conhecimento dos valores; ética e respeito à pluralidade cultural, a diversidade, a sexualidade, credo entre outros; conhecimento e argumentos para o debate sobre temas atuais; consciência dos valores e concepções que veiculam em suas atividades, quando se relacionam com o seu público e outros integrantes da comunidade; conhecer e discutir conteúdo e conceitos de inclusão, cidadania, equidade social, mobilidade social, entre outros; articular integradamente as atividades na busca da transdisciplinariedade; conhecer leis, direitos e deveres do público atendido;

e) Avaliação: concepções; finalidades; instrumentos; modalidades; compreender como os (as) educandos (as); elaborar instrumentos para avaliar a aprendizagem; quais as variáveis que podem interferir na avaliação; uso adequado da avaliação; avaliação do ensino na atividade, do (a) educador (a). Avaliação de efeito ou impacto. Avaliar as avaliações.

f) Procedimentos de produção de conhecimento: estimular que todo (a) educador (a) aprenda a investigar, sistematizar e produzir conhecimento, por meio de observação, análise, formulação de hipótese e elaboração de propostas de intervenção e avaliação do seu fazer; estudo de casos. Organizar dados, produzir e publicar artigos em revistas científicas, congressos, seminários e mesas temáticas para comunicar o trabalho realizado socializando, assim, a sua prática.

Para que estes saberes sejam úteis ao (a) Educador (a) Social, esse (a) precisa atuar de forma inteligente, flexível e contextualizada, produto de uma mistura integrada de ciência, técnica e arte. Mais ainda, caracterizada por uma sensibilidade, criatividade, que permita ao (a) profissional, agir em situações variadas, complexas e indeterminadas (Schön: 2000). E nesse contexto, a elaboração e a construção do conhecimento se dará na ação. Ao mesmo tempo em que se exercita a reflexão na ação, a reflexão sobre a ação e, finalmente, a reflexão sobre a reflexão na ação (Schön:2000), porque na maioria das vezes não existe um manual de registros de tantas situações problemas que se apresentam no cotidiano deste (a) profissional.

Além disso, variadas são as atividades burocráticas do dia a dia tais como:

1.                  Conhecer a Proposta Político Pedagógica da instituição;
2.                  Estudar o Projeto da qual a sua atividade será inserida;
3.                  Elaborar Plano de ação anual (com objetivos; avaliações de atividades e de impacto, orçamento);
4.                  Elaborar a Agenda de atividade (Semanais ou quinzenais);
5.                  Realizar registros de frequência;
6.                  Registrar dados da frequência;
7.                  Participar de estudos de casos;
8.                  Comparecer às reuniões de gestão e pedagógicas;
9.                  Estudar e escrever sobre a sua experiência;
10.              Participar de encontros de qualificação continuada.

Em relação a este último, a experiência tem mostrado a importância da formação continuada para o crescimento profissional do (a) Educador (a) Social, e dos trabalhos nas instituições. Esta qualificação precisa ser realizada periodicamente, quando gestores e a equipe de trabalho identificam situações emergentes, como a necessidade da ampliação de um conhecimento específico que se encontra frágil ou contraditório no grupo, subjetividades característica do público atendido, alinhamento de um conceito com variadas perspectivas na equipe, como por exemplo o da indisciplina, desrespeito, entre outros.

Enfim, estas são algumas considerações, de um tema muito mais abrangente e cheio de especificidades relativo à prática e profissionalização do (a) Educador (a) Social que inserimos aqui, para uma rápida reflexão e quem sabe, aprofundamento em outros encontros. Espero, ainda, que ofereça ao (a) Educador (a) Social se reconhecer e fortalecer como profissional humanista e libertador, e principalmente que usa o conhecimento para realizar uma aprendizagem significativa para o (a) educando (a) ser mais dada a realidade vivida.

 Como Freire, a educação que acredito ser viável com o público atendido, na sua maioria oriundos das periferias, não pode ser diferente daquela com a qual elenquei conceitos para educar meus dois filhos e é muito diferente dos processos de educação de domesticação e treinamento. É “uma educação que busca desenvolver a tomada de consciência e a atitude crítica frente à vida, graças à qual o ser humano escolhe e decide, liberta-o em lugar de submetê-lo, de domesticá-lo, de adaptá-lo” (Freire in Streck:2008) mas, principalmente, uma educação que o (a) faça feliz,  integrado (a) à sociedade tendo como premissa a ética, o respeito a si e ao outro.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar,1998.
SACRISTÁN, J. Gimeno; GÓMEZ, A. I. Pérez. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
SCHÖN, Donald A. Educando o Profissional Reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000
STRECK. Danilo; REDIN, Euclides; ZITROSKI, José. Dicionário Paulo Freire. Belo Horizonte: Autêntica,2008.




[1] Pedagoga com Mestrado em Educação - Tecnologia e Comunicação - UFSC (2009) e Mestrado em Educação - Arte e Cultura Catarina - UDESC (2003), Especialização em Psicopedagogia - UNISUL (1999) e Graduação em Pedagogia (Orientação Educacional) - UDESC (1997). Atualmente é Coordenadora Pedagógica do Programa Socioassistencial da Fundação Catarinense de Assistência Social - FUCAS respondendo às questões pedagógicas do Programa “Campeões nas quadras e na vida” e responsável pelo aperfeiçoamento continuado e acompanhamento do Educador Social. Tem experiência na Educação Superior nas modalidades presencial e a distância com as disciplinas de Didática, Prática Pedagógica/Prática de Ensino (UDESC e UFSC), Estágio supervisionado presencial e EAD, Alfabetização, Planejamento e Currículo (UDESC, UFSC e FACVEST) e Psicologia da Aprendizagem (UNIVALI), com orientações de TCCs e de trabalhos de Pós-graduação. É pesquisadora do imaginário político das juventudes. Participou da equipe de Pesquisa MEC/UFSC/LANTEC do Pró UCA - Projeto um computador por aluno (2011-2013) orientando trabalhos de Professores da rede pública do estado de SC. A convite do MEC, atuou no Projeto Alfabetização Solidária. É membro do Participatório em Rede da Secretaria Nacional da Juventude desde 2013.
Contatos: marilene@alencastro.com.br   -   Cel: (48) 984128600

quinta-feira, setembro 13

quarta-feira, agosto 5

O Educador Social- Introdução


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Educador social

Embora haja uma discussão acalorada a respeito da práxis do Educador Social com a do Pedagogo a experiência, com os dois profissionais mostra aproximações e distanciamentos.   

A formação do Educador Social tem origem em Portugal e é relativamente recente como habilitação superior. No final dos anos 80, algumas escolas começaram a ministrar a formação superior de bacharelado do Educador Social.

A década de 90 conhece os primeiros Educadores sociais com habilitação superior que avançam para o mercado de trabalho com uma necessidade enorme de se darem a conhecer e de demonstrar a validade e as vantagens da sua intervenção. Hoje em dia é uma licenciatura, ministrada em mais de uma dezena de Universidades e Escolas Politécnicas. No Brasil, desde 2009 tramita um Projeto de Lei de  Nº 5.346/2009 que busca a validade institucional da profissão e, atualmente  encontra-se sob a responsabilidade da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania aguardando apreciação e parecer desta.


O Educador social estabelece-se, intervindo com as mais diversas faixas etárias (crianças, jovens, adultos, idosos) e nos mais diferentes contextos sociais, culturais, educativos e econômicos situados fora dos âmbitos escolares, que envolvem: pessoas e comunidades em situação de risco e/ou vulnerabilidade social, violência e exploração física e psicológica; preservação cultural e promoção de povos e comunidades remanescentes e tradicionais; os segmentos sociais prejudicados pela exclusão social: mulheres, crianças, adolescentes, negros, indígenas e homossexuais; a realização de atividades sócio educativas, em regime fechado, semiliberdade e meio aberto, para adolescentes e jovens envolvidos em atos infracionais; a realização de programas e projetos educativos destinados a população carcerária; as pessoas portadoras de necessidades especiais; o enfrentamento à dependência de drogas; as atividades sócio educativas para terceira idade; a promoção da educação ambiental.


Todavia o  Educador Social não trabalha só com indivíduos em situação de vulnerabilidade, mas também com pessoas, independentemente da etapa de vida em que se encontram, e estejam ou não em situação de vulnerabilidade social. A multiplicidade de experiências profissionais acumuladas pelos profissionais da Educação Social, as quais constituem na realidade, a grande riqueza desta profissão.

O Educador Social, enfim, estabelece uma relação de proximidade que permite valorizar a importância de cada situação de forma particular, porque vai precisar olhar o indivíduo om a qual atua na sua integralidade.